11/12/2010

1535 - Sôbolos rios que vão


Bertrand - 15,50€
2ª edição
Revisão filológica de
António Bettencourt

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mas os castanheiros tão longe e a varanda para a serra perdida, ficou a bomba do poço avançando e recuando sem que ninguém a movesse ou o som apenas que lacerava as nogueiras, viu a cozinheira a escolher  uma galinha e a paisagem com barcos do escritório enquanto a bomba trazia à tona a surpresa e o terror, vão matar-me, uma agulha no braço que não sentia seu e as sílabas dos eucaliptos mais rápidas anunciando o quê, teve dó da solidão dos pés à mercê dos corvos que bicavam o pomar, uma das empregadas do hotel encostou-lhe uma concha ao nariz e à boca e os pés concentraram em si a surpresa e o terror, a velha aconchegou a batata no xaile numa ferocidade avarenta, nunca falavam as velhas, coxeavam carregando os sacos dos corpos, espantou-se que a bomba funcionasse em silêncio, os corvos grasnassem em silêncio e as sílabas dos eucaliptos e das empregadas do hotel repetissem em silêncio, a harpa da dona Irene inaudível embora o jorro de gotas voltasse a cobri-lo separando-o do médico de blusa verde igualmente, difícil de distinguir no nevoeiro do Mondego e a surpresa e o terror deixaram-no, um negrume sem origem tingiu-o por dentro reduzindo-lhe a vida a cores desarticuladas e formas difusas sumindo-se num ralo no interior de si que não calculava existir, embora não pensasse julgou pensar
- Quem sou eu?
e o que significava pensar, ...
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